10 setembro 2007

DA ESCOLA WALDIKIRIANA SÓ HÁ UMA LIÇÃO PARA SE GUARDAR: O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO.



A TRAJETÓRIA DE UM GRANDE ARTISTA BRASILEIRO

Quando ainda não existiam os ficantes, os caloteiros e os cantores fabricados, havia lá pelas bandas da Bahia, um herói adormecido no garimpo. No dia em que ele acordou, montou no seu garanhão e foi pra longe num galope rumo a história. Não demorou muito para que seu brado fosse escutado pelos quatro cantos da nação. Os primeiros registros da sua existência constam nos idos anos 50. De lá pra cá, sua lenda ganhou muitas versões, incluindo a versão do próprio Durango Kid do sertão, ao que seus seguidores reconhecem pelo nome de Waldik Soriano. A insígnia obrigatória dos apaixonados eternos.

Homem com homem dançando no forró do Chico Jacobina

A edição de 16 de junho de 1977, da revista Manchete, publicou uma matéria assinada pelo famoso Ronaldo Bôscoli sob o título de “Waldik Soriano – O machão brasileiro.” Até então o cantor já havia lançado 52 LP’s, quase uma centena de compactos e uma autobiografia “Lutas e Glórias de um Homem”. A longa matéria só não é maior do que os títulos que Ronaldo Bôscoli (um dos pais da Bossa Nova, ex-marido de Elis Regina e pai de João Marcelo Bôscoli, filho de Elis) acrescenta a Waldik. Recebido pelo cantor em sua mansão na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, o machão amolece a alma e conta casos engraçados vividos nos tempos do garimpo. “(...) resolvi descer a serra da Coruja para encarar um baile. Eu e meus companheiros de garimpo. Chegamos lá e quase caiu meu queixo! Homem dançando com homem e as mulheres só nos encostos. Saquei logo uma boazuda com a batata de perna arretada. E parti pra contradança. Veio o pai. O bode formado. Aí acabamos com a festa. Derrubamos a latada. Latada é o lugar que os caras arrumam pra fingir que é o salão. Dei um tiro certeiro no fifó, ficou tudo escuro. O pau comeu redondo. Aí veio machão, o mais sabido. Chamou a gente pra brigar na estrada. Quinze de cada lado. Meu bando só tinha homem do garimpo. Barra pesada mesmo. Acabou tudo bem. Voltamos pra festa e eu, depois de muito bem recebido pelo dono do baile, achei que ia ganhar a moça. “Cada terra tem sua lei. Aqui é assim. Por favor respeite a minha casa.” O velho me comoveu e eu tirei o Chico Jacobina pra dançar... olha meu amigo, dançar com homem é pior que namorar burra. Senti muita saudade da minha Boneca. Uma burrinha jeitosa que tinha cara de moça... peguei da sanfona, toquei e tomei cana até acordar no dia seguinte cheio de lama...” com Waldik é assim. Se for pra falar de desgraça, que seja recheada com humor e folclore, temperos que não podem faltar nas conversas do astro. Como o cantor reagiria ao perceber a zombaria de certas pessoas? Ele mesmo conta para o Bôscoli, a experiência vivida numa sofisticada casa da zona sul carioca. “Quando senti que os caras queriam curtir com a minha cara, fui bagunçando. Tirei paletó, gravata, subi no piano e cantei paca (...) quando eu cantava Eu Não Sou Cachorro Não, ouvi uns risinhos marotos. Parei e disse: quem tiver mais dinheiro no bolso do que eu fica com o meu carro. Um Camaro do ano. Mas quero ver grana viva. Nada de cartão de crédito. Puxei mil cruzeiros, botei em cima do piano e ninguém se manifestou. Bom, então eu paro o show aqui. Prefiro pagar a multa. Porque eu não sou cachorro não...” E concluiu: “Sabe que uma grã-fina se apaixonou por mim, no ato? Fomos para sua cobertura e tomamos banho de piscina.” São fragmentos da longa história do rei do bolero, na verdade, insignificante diante do trabalho magnífico que realizou em discos, acompanhados por maestros como Guerra Peixe, Waldemiro Lemke, Francisco Moraes, Portinho e outros imortais da batuta.

Patrícia Pillar e Waldik. Um novo gás para a carreira do ídolo

Waldik construiu uma das carreiras mais interessantes da história da música popular brasileira. Seu nome dispensa comentários acerca dos títulos lançados. Ao mesmo tempo, sua obra requer análise profunda por parte de pesquisadores e historiadores, profissionais sérios e livres de todo e qualquer ranço de preconceitos. Assim, sua obra será ouvida e conhecida pela nova geração. Até mesmo como integrante legal História da música popular brasileira, que ele é.

Certamente Waldik sobreviveria sem os impulsos da fã Patrícia Pillar. Mas dificilmente voltaria a ser assunto nacional e o que é mais raro ainda, volta recebendo elogios de críticos da velha guarda, aqueles que um dia já miraram o grafite na direção do cantor. Patrícia Pillar sabe usar muito bem seu nome famoso. Há muitos anos ela associa seu nome a causas nobres como apadrinhamentos de crianças carentes, saúde e educação. Não posso enxergar outra coisa na atitude da atriz senão o compromisso de contribuir com a nossa história, ou melhor, a História do Brasil. Cidadã consciente, Patrícia exerce brilhantemente a profissão de atriz, se distanciando anos luz dos protótipos de estrelinhas que sequer sabem quem foi Patativa do Assaré e o que é pior, nem se interessam em saber. Antes, se satisfazem plenamente ao receberem convites de revistas para freqüentarem balneários e ali, mostrarem que são ricas, famosas e vazias. Contudo, não posso acusar ninguém. Não se cobra de alguém aquilo que ele não pode oferecer. Quem sabe agora, depois do serviço prestado à cultura por Patrícia, alguém se mobilize e lance a campanha cultural Adote um ídolo esquecido. Já posso até vislumbrar a Débora Secco adotando o Balthazar, a Juliana Paes com o cantor César Sampaio, a Danielle Winits e Ângelo Máximo, o Duda Nagle abraçando Lady Zu, o Gugu apadrinhando todos aqueles cantores lançados por ele nos anos 80 (menos, né?). Não faltarão padrinhos e madrinhas fuçando os arquivos públicos atrás de informações sobre os cantores. Mas infelizmente terão que buscarem noutras fontes, pois ali não encontrarão nada sobre eles. Que triste! A campanha já acabou antes mesmo de começar.

A figura do homem de preto. Novamente Waldik na mídia

Na manhã em que escrevo essa crônica sem compromisso literário, mas cheio de boas intenções, fui surpreendido ao ligar a TV e deparar-me com Ana Maria Braga abrindo a porta para Waldik adentrar no Mais Você. Saltei da cadeira, aumentei o volume e abri as “oiças”. Estava ali o velho Waldik, aos 74 anos lançando cd e DVD com direção de Patrícia Pillar. Apesar da distração da apresentadora, que entre outras coisas confundiu Ciro Gomes com Sírio de Nazaré, perguntou o porquê de Waldik cantar tragédias e ostentar cabeleira loira. Ana é simpática, apesar de acordar cedo. Chamou Waldik de amigo de longa data, andaram de braços dados pelo cenário e cantou com ele. Coincidentemente o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, do jornal O Globo, escreveu na mesma manhã, uma crônica muito bonita e repleta de elogios, apresentando Waldik como o maior cantor brasileiro. Ana entregou o jornal para o cantor, que logo dobrou e pôs sobre a mesa. O Waldik voltou novamente. Não sei porque, mas quando o programa acabou, lembrei-me de quando morava em Fortaleza e estudava no colégio Santo Inácio. É que na casa de um amigo, estudando para fazer um trabalho de equipe, surgiu uma arenga entre meu amigo e sua irmã. No desejo de lhe ofender, ela o chamou de “seu chato! Seu Waldik Soriano! Acabo de recordar-me que foi saindo do colégio Santo Inácio, no final da aula, que num dia qualquer do ano 86, avistei um homem todo de preto cruzando a praça do Canal 10. Fiquei curioso diante daquele homem e sua indumentária. Caminhei na direção de duas moças que haviam recebido daquele homem um postal com sua foto, perguntei sobre o tal homem de preto e elas me responderam: Era Waldik saindo da Rádio Verdes Mares”. Nunca mais esqueci daquele homem.

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